terça-feira, 4 de setembro de 2007

I Risotti

Existem alguns grandes engodos na baixa gastronomia brasileira. Um deles é o risoto. Todos nós fomos enganados (e continuamos sendo) quanto ao que é, de verdade, o risoto. Alguns dos bares e botequins autênticos da baixa gastronomia carioca que têm exemplares como o Tia Salete e o Siri, ambos na Tijuca, servem indiscriminadamente arroz de camarão chamando de risoto de camarão. Uma lástima. Não que seja ruim. Muito pelo contrário. São pratos saborosíssimos! Infelizmente não é risoto.

O risotto é um prato feito com arroz italiano (principalmente o carnaroli) que precisa de um cozimento em fogo alto e muito jeito e energia para girar sem parar uma colher de pau mexendo o arroz por uns 20 minutos. O preparo é simples, mas requer uma pouco de experiência para conseguir acertar o tempo de cozimento com a consistência do arroz e o molho em excesso que dá um sabor e uma textura especiais. É isso mesmo não se assustem! O bom risoto não fica sequinho. Não disse que tinham te enganado? O arroz desprende amido durante o processo de feitura com o movimento freqüente da colher de pau. Com isso, o risoto vai ganhando um aspecto de arroz empapado que nesse caso funciona.
O Risoto, como diz o grande Chef Luciano Baseggio em seu livro “Il riso in tasca” é um prato completo e muito versátil. O risoto pode ser servido até como entrada, mas normalmente me agrada a idéia de fazê-lo como prato principal acompanhado ou não de uma carne. Há risoto de frutos do mar, carnes, funghi, pato, ou apenas alla parmigiana. O “alla parmigiana” não é exclusivo do risoto que leva o seu nome todos eles carregam grandes quantidades de queijo parmesão e manteiga. Esqueçam as calorias e não desanimem!
Outro dia cozinhei um simples risoto al Funghi porcini (receita adaptada do livro que citei acima) como primi piatti para celebrar o aniversário do amigo Mauro. Como era uma entradinha servimos pequenas porções para 10 pessoas e deu... Vamos ao que interessa: Dissolva 4 pacotes de caldo de carne em 2 litros de água e deixe ferver. Há aqueles que preferem fazer o seu próprio caldo. Entretanto, depois que eu vi a dica de Miguel de Carvalho, o magnífico, dizendo que os caldos prontos são muito adequados eu substituí e, pasmém não faz muita diferença. Lave 80-100g de funghi porcini secchi e amacie em 200ml de água morna por 30 minutos. Reserve a água. Triture 2 cebolas grandes e refogue em 2 colheres de manteiga. Adicione o arroz (½ kg, carnaroli) e o porcini drenado e refogue por alguns minutos. Adicione 2 taças de vinho branco de boa qualidade. Mantenha o arroz refogando. Comece a mexer. A partir de agora não pode parar mais! Quando começar a secar adicione o caldo (misture a água reservada do porcini com o caldo). Cozinhe por 16-17 minutos mexendo sempre. Não coloque caldo em excesso perto do fim. Adicione mais 2 colheres de manteiga e uma xícara grande cheia de parmesão (ou grana padano, uns 250g) ralado. Misture bem e sirva imediatamente. esse prato acompanha vinhos leves. O Vino Nobile de Montepulciano é sempre uma boa pedida, mas para bolsos menos previlegiados (como o meu) preferimos um banho de Malbecs e Merlots argentinos, e Carmenére Chilenos. Destaque total para o Andeluna Merlot 2004. Depois que os merlots foram achacados no bom filme sideways eu fiquei com pena e comecei a beber mais dele. Até porque os preços caíram um pouco. Especialmente os varietais. Esse Andeluna é uma coisa! Macio e bem equilibrado, sem adstringência exagerada e bouquet rico. Gostoso só de ficar cheirando!

Outro grande pecado feito com o arroz no Brasil é também uma tentativa de risoto: o arroz à piamontese. Uma espécie de risoto pobrezinho... Mas isso é outra história.

5 comentários:

Karina Perú disse...

Bom, fiquei com aguan na boca, vc vai ter que preparar esse risoto para eu experimentar!!!!!! Bjs!!!

Eduardo Goldenberg disse...

Como eu imaginava, professor, não vai dar nem pra saída.

Milton Ozório Moraes disse...

Meu jovem Edu, tenho certeza que em você reside algum talento culinário. A pergunta é se de fato é inato a ponto de cozinhar de olhos fechados ouvindo o tilintar dos talheres como acordes de piano de Nelson Freire...

Xuxu disse...

Gostei de ver citado o livro que eu te dei! Agora aguardo a prova do produto. Tenho pensado muito em fazer um risoto um dia desses, e seu post no blog só reforçou a ideia. Acho que vou fazer de comemoração da entrada no novo apartamento.

Xuxu disse...

Gostei muito de como você elegantemente corrige esse "engodo da baixa gastronomia brasileira" sem tirar o mérito dos risotos dos nossos botecos. Talvez o erro seja apenas no uso do nome "risoto", que deve ser considerado um pecado aos nossos turistas italianos. Sugiro então um novo nome para o risoto de camarão do Siri: "Camarão e Riso" já que o que nos agrada é a proporção de camarão para arroz chega na mesa.

Quem conhece alguma coisa sobre a comida de outros países vive se deparando com esse problema no Brasil: "isso não é o verdadeiro Crepe Suzette"; "isso não é o verdadeiro Ceasar Salad", isso não é o verdadeiro Bacalhau a Brás"; nem vou comentar sobre a nossa comida Chinesa! Mas a beleza é conhecer, aceitar as diferenças e ao trazer o garfo para a boca, pensar "se todos fizessem igual, talvez perderia a graça".